Nos últimos dez anos, o Instituto Francês de Educação vem produzindo ambientes digitais para contribuir com a formação em navegação autônoma ou com a presença de um formador de interessados em educação (professores, instrutores, diretores, inspetores). Trata-se de, partindo de observações de situações profissionais reais, analisar as dimensões ocultas da profissão, no sentido de descobrir dilemas profissionais, mas também para traçar transformações mais ou menos silenciosas da atividade profissional. Nossas observações se concentram em processos típicos de situações de trabalho, mas também nos mais críticos (do ponto de vista dos profissionais) considerando acoplamentos ator/ situação de trabalho. A explicitação da experiência a partir de um único lugar (sala de aula) ou em contextos muito variados (através da mobilização de traços de atividades multimodais: áudio, fotos, vídeo, artefatos), permite o ressurgimento entre os atores-observados das experiências vividas, preocupações ou conhecimentos mobilizados em seu trabalho. Estes acoplamentos singulares ou típicos, comuns ou críticos são em seguida mobilizados e testados em situações de formação para avaliar seus efeitos sobre os profissionais em treinamento. Estes novos acoplamentos entre formandos e situações profissionais vividas por outros (allo-confrontação), favorecem fenômenos de reconhecimento, mimetismo e projeção susceptíveis de contribuir para processos de aprendizagem e desenvolvimento.

Esta comunicação tem como objetivo apresentar um programa de pesquisa segundo a perspectiva do « curso da ação » no campo da educação de adultos, segundo os postulados da abordagem enativa, microfenomenológica e semiótica. Para ilustrar o nosso propósito, nos apoiamos principalmente em pesquisas recentes realizadas no campo da simulação, treinamento de segurança e preparação para o gerenciamento de crises.

Nossa contribuição terá como objetivo oferecer alguns pensamentos sobre o desenvolvimento da expertise profissional em um contexto de trabalho no mundo real. Será baseado em pesquisas colaborativas realizadas em um contexto universitário. As atividades propostas baseiam-se na ideia de que a análise da atividade docente é um desvio essencial para a identificação e desenvolvimento de habilidades no trabalho. Aprendemos a fazer, mas também aprendemos fazendo. Continuamos aprendendo através do próprio exercício de nossa profissão. Contando tanto com Lave, Suchman, Varela e Maturana, propomos distinguir o contexto da situação pela luneta enativa. Nessa perspectiva, uma situação é o que perturba o ator e o que perturba o ator é o que é significativo para ele. É por isso que descrevemos a situação do ponto de vista do ator dando primazia ao intrínseco, o que nos leva a uma redefinição da noção de cognição mais próxima de Varela. A cognição, portanto, apresenta-se como o domínio de acoplamento de um ator com as múltiplas situações que ele é trazido para atravessar, ao contrário do modelo cognitivo, que o vê como o setor de representações ou conhecimento.

Desde os anos 2000, as escolas do Quebec vêm avançando em direção à educação inclusiva (UNESCO, 2009, 2016). As tentativas de implementar esta política são baseadas em modelos de intervenção, como curriculum-based assessement (CBA), curriculum-based evaluation (CBE), curriculum-based mesurement (CBM) e Concepção universal de aprendizagem (CUA). Entretanto, nossa revisão de literatura tende a mostrar que esses modelos apresentam uma sobreposição terminológica confusa e um formato de difícil utilização pelos professores a ponto de limitar a realização dos objetivos da educação inclusiva. Além disso, não parece haver nenhuma pesquisa ou implementação destes modelos que tenha sido conduzida com sucesso (Stecker, Fuchs, & Fuchs, 2005; Montminy, 2016). O objetivo deste trabalho de doutorado é propor um modelo de intervenção de educação matemática derivado dos modelos CBA-CBE-CBM-CUA segundo o postulado da enação (Varela, 1993; Varela, Thomson e Rosh, 1996). A ideia é, portanto, tomar como objeto a atividade dos estagiários (professores em formação) de forma a influenciar a sua transformação de forma profunda e duradoura através a implementação deste modelo como um artefato ocupando uma função de apoio à transformação (Durand, 2009).

No sentido de ir além de intenções et objetivos aplicacionistas no campo da formação de futuros professores, oferecendo-lhes um contexto apropriado para o desenvolvimento e aprendizado, vários pesquisadores concordam que a articulação entre teoria e prática é necessária e incontornável. Em uma abordagem antropológica cognitiva situada, esta totalidade é a atividade. Nosso projeto de pesquisa tem como objetivo propor um dispositivo de formação que favoreça o desenvolvimento/aprendizagem baseado nos postulados enativos. Nessa perspectiva, a experiência dos atores (futuros professores) no interior da situação de formação articulando cultura escolar et cultura universitária são considerados como espaços convergentes na tentativa de explorar os « espaços de ações encorajantes » (EAE) (Durand, 2008) na tentativa de assegurar a ponte entre a atividade de formação e a as experiências do formando e sua transformação.

Uma jornada, uma ideia, que inscreve seu caminho nos passos das emoções que outros descreveram e colocaram no papel no "Discurso do Método" (1637), de René Descartes, através de "A Ética" de Spinoza (1677), ainda caminhando no caminho em direção ao "Quatro Faróis para o Futuro das Ciências Cognitivas" Varela (1999), sem perder fôlego, mas ainda descansando na leitura de "A Estranha Ordem das Coisas" Antonio Damasio (2017). Nossa curta intervenção só terá no coração para tentar entender melhor e apreender essas emoções, nossas emoções que ainda estão e sempre arrancadas de um lado para o outro das ciências cognitivas, às vezes vacilando a serviço do inútil no coração do computação, para se revelarem nos braços da enação.

O grupo de pesquisa “Enativos: conhecimento e cuidado” (IP/UFF) iniciou suas pesquisas colocando em questão o modelo da representação nos estudos da cognição. Interessou-nos investigar o acesso à experiência em uma abordagem enativa, problematizando o fenômeno da coemergência entre o si e o mundo, tanto nos estudos cognitivos quanto no campo da saúde mental. Nosso pressuposto é de que criamos o mundo que conhecemos e, consequentemente, estamos implicados nele de modo clínico e político. A partir de 2009, participamos do processo de adaptação à realidade brasileira do Guia de Gestão Autônoma da Medicação (GAM) construído, em sua primeira versão, no Quebec na década de 1990 pela Associação dos Grupos de Atendimento em Defesa dos Direitos em Saúde Mental do Quebec (AGIDD-SMQ). O grupo Enativos tem se preocupado mais recentemente com os processos de capilarização da GAM como política pública de saúde. Nesse contexto, interessa-nos pensar os processos de formação em saúde como estratégia de ampliação de modos de fazer e modos de pensar imbuídos de competência ética.

Neste trabalho, apresentaremos pistas metodológicas da abordagem enativa empregadas em nossas pesquisas na saúde pública. Para uma abordagem enativa, a pesquisa não representa a realidade: toda pesquisa é intervenção. Assim, nossas pesquisas dialogam com a tradição da “pesquisa-intervenção” na América Latina e Brasil. Mais especificamente, identificamos nosso trabalho como uma “pesquisa-intervenção participativa”, compreendendo tanto a intervenção quanto a participação a partir da perspectiva enativa. Compreendemos a intervenção como perturbação, de modo que o caráter interventivo da pesquisa não responde a um programa pré-estabelecido pelo pesquisador, nem diz respeito a transformações sofridas apenas pelo campo pesquisado. Já o caráter participativo se refere ao acesso e à inclusão da experiência dos atores envolvidos na pesquisa. Dois aspectos metodológicos serão destacados: o “manejo cogestivo” e a “construção de grupalidade”. Graças a esses aspectos, nossas pesquisas ganharam também a denominação de “pesquisa-apoio”, expressão da produção de cuidado na pesquisa-intervenção.

Em que medida a intervenção com a estratégia GAM é formadora? Sob a perspectiva enativa, a tradicional ideia de transmissão da informação, nos processos de formação, não se sustenta. O sistema cognitivo tem caráter autônomo: não se trata de formar o outro, mas de usar métodos que facilitem o acesso à experiência formativa, na qual está incluída também o pesquisador. Essa noção abre o sentido de participação na pesquisa. A experiência formativa está relacionada diretamente às perturbações que se expressam na expansão dos domínios de interações. Ampliar os domínios de interação da estratégia GAM faz emergir um processo de capilarização (ampliação de circulação/reprodução e deriva) dos grupos GAM nos contextos da atenção à saúde pública brasileira. Esse processo se produz por dentro da política pública, o Sistema Único de Saúde (SUS). A capilarização opera por contágio da aposta metodológica da cogestão e cria uma conduta cultural de transformações subjetivas coemergentes nos grupos. Atua como um dispositivo de ampliação, bottom up, da política pública de saúde, atualmente constrangida pelo Estado brasileiro.

Nesta comunicação, exploramos a influência do pensamento de Francisco Varela e de alguns princípios e pressupostos de uma abordagem enativa no desenvolvimento de um novo quadro de conceptualização e prática do pensamento complexo (Melo, 2020). Esta proposta organiza-se a partir de uma visão do mundo relacional, nomeadamente uma ontologia e epistemologias relacionais, assentando no trabalho seminar de Edgar Morin sobre a noção de pensamento complexo e procurando expandi-lo na direção uma maior operacionalização do conceito. Discutem-se, brevemente, os conceitos chave na base da operacionalização do pensamento complexo, nomeadamente a noção de acoplagem e a definição do pensamento complexo como um modo especial ou processo de acoplagem e como um resultado relacional da mesma. Exploram-se, ainda, os desafios teóricos e práticos que se levantam na construção e gestão de estratégias de suporte à prática de um pensamento complexo orientado para a compreensão e gestão da mudança em sistemas designados como complexos. Neste sentido, lançam-se um conjunto de questões orientadas para o aprofundamento de contributos de uma abordagem enativa e a exploração de novos caminhos interdisciplinares de elaboração da teoria e da prática aplicada.

Este trabalho pretende explorar hipóteses para uma abordagem enativa de um projeto acerca de experiências migratórias. Neste projeto, pessoas que viveram essas experiências compartilham-nas em grupo sob a forma de narrativas, em um dispositivo que, na antropologia, conhece-se como “oficinas biográficas”. Tais narrativas geram ocasiões de reposicionamento subjetivo, ou de fabricação (auto)biográfica. A enação dá pistas metodológicas para o trabalho em grupos, como o interesse pela experiência, a atenção ao caráter coemergente de sujeito e mundo e a concepção de uma construção coletiva de sentido. Assim, pretende-se investigar como uma abordagem enativa das oficinas permite desenvolver noções de identidade, alteridade e biografia, bem como promover intervenção, transformando relações sociais e subjetivas.

A apresentação enfoca as decisões conceituais e metodológicas consecutivas à adoção de um postulado da enação nas pesquisas em educação. Este programa define um objeto "a atividade" como a redução da vida quotidiana dos homens e estuda-o segundo uma ontologia e epistemologia enativistas. A exposição em três partes revê as principais questões e decisões relativas à definição da atividade humana como um objeto teórico, um objeto de estudo e um objeto de intervenção educacional, consistentes com o postulado da enação.